Uma vez um camarada me disse: Seu Anselmo, você quer comprar uma cabrita? Eu arranjo uma cabrita bonita pra você.
Então fomos ver a cabrita. Lá chegando ele pegou a cabrita no laço e levou pra mim.
- É, tá bom! Quanto você quer?
- 50 cruzeiros.
- Então eu vou comprar, toma aqui seu dinheiro.
Ele colocou o dinheiro no bolso e fomos embora, eu estava de cavalo e ele puxava a cabrita atrás. Vai que a calça dele era velha e o bolso estava furado, ele não sabia. O dinheiro caiu e a cabrita vapt! Comeu o dinheiro.
No outro dia de manhã ele apareceu lá em casa, dizendo: Anselmo, você já matou a cabrita?
- Eu não, olha ela aí.
- Seu Anselmo, faça um favor para mim: o senhor espia na cabrita se ela tem meus 50 cruzeiros porque eu acho que ela comeu. Meu dinheiro sumiu.
- Então eu vou matar a cabrita hoje mesmo.
Matei a cabrita e dei o bucho para a mulher limpar sem falar nada com ela. Daqui a pouco vem a mulher: Anselmo, sabe o que tinha no bucho da cabrita?
- Eu não, o que?
- Tinha uma nota de 50 cruzeiros toda esbagaçada.
- E cadê a nota?
- Mas está tudo estragado!
Eu olhei e disse: Sabe de uma coisa, se tivesse matado a cabrita ontem a tarde ainda tinha salvado esse dinheiro, porque nessa noite a cabrita ruminou o dinheiro.
Aí veio o camarada buscar o dinheiro e viu que estava todo esbagaçado.
- Ah, Seu Anselmo, que pena! Se o senhor tivesse matado ela ontem mesmo eu não teria perdido meu dinheiro. E agora o senhor não pode fazer nada, afinal me pagou direitinho e fui eu quem perdi. Me pagar de novo o senhor não pode, né? Mas foi a sua cabrita que comeu o meu dinheiro!!
- Sabe de uma coisa, vamos resolver isso: eu vou te dar a metade do valor, assim nós dividimos o prejuízo. Eu perdi e você também.
E dei mais 25 cruzeiros para ele.
- Sabe Favarato, o senhor é um homem de valor, gosto de ver, se fosse outro não me dava mais nada, por isso todo mundo gosta do senhor, pagou tudo certinho e ainda me deu mais 25 cruzeiros. Tá bom demais! Obrigado.
E o camarada foi embora satisfeito.
Passei a criar muitas cabritas lá na Lagoa, eram cabritas boas, davam uns 2 litros de leite cada uma. Eu vendia o leite para o camarada e estava tudo bom! Na Lagoa tinha muito pasto na vargem, tudo cercadinho, uma beleza!
Um dia as cabritas apareceram todas com um papo grande.
- Ih, as cabritas estão todas doentes!
- Sabe o que é Anselmo? Elas querem andar no morro, cabrita gosta de morro.
Então coloquei as cabritas no morro e pronto, elas melhoraram logo, se vê como é cabrita! Cada um tem o seu lugar!
O problema foi que no morro, o pasto tinha uma porção de coisas: pé de manga, de jaca, de goiaba... e as cabritas comiam a casca dos troncos matando as árvores.
Quando eu vi aquilo: Ah, vou matar essas cabritas!
E matei todas. As cabritas são assim, comem tudo, até dinheiro!