Uma homenagem ao meu avô Anselmo

A história das cabritas

30/06/2011 00:00

Uma vez um camarada me disse: Seu Anselmo, você quer comprar uma cabrita? Eu arranjo uma cabrita bonita pra você.

Então fomos ver a cabrita. Lá chegando ele pegou a cabrita no laço e levou pra mim.

- É, tá bom! Quanto você quer?

- 50 cruzeiros.

- Então eu vou comprar, toma aqui seu dinheiro.

Ele colocou o dinheiro no bolso e fomos embora, eu estava de cavalo e ele puxava a cabrita atrás. Vai que a calça dele era velha e o bolso estava furado, ele não sabia. O dinheiro caiu e a cabrita vapt! Comeu o dinheiro.

No outro dia de manhã ele apareceu lá em casa, dizendo: Anselmo, você já matou a cabrita?

- Eu não, olha ela aí.

- Seu Anselmo, faça um favor para mim: o senhor espia na cabrita se ela tem meus 50 cruzeiros porque eu acho que ela comeu. Meu dinheiro sumiu.

- Então eu vou matar a cabrita hoje mesmo.

Matei a cabrita e dei o bucho para a mulher limpar sem falar nada com ela. Daqui a pouco vem a mulher: Anselmo, sabe o que tinha no bucho da cabrita?

- Eu não, o que?

- Tinha uma nota de 50 cruzeiros toda esbagaçada.

- E cadê a nota?

- Mas está tudo estragado!

 Eu olhei e disse: Sabe de uma coisa, se tivesse matado a cabrita ontem a tarde ainda tinha salvado esse dinheiro, porque nessa noite a cabrita ruminou o dinheiro.

Aí veio o camarada buscar o dinheiro e viu que estava todo esbagaçado.

- Ah, Seu Anselmo, que pena! Se o senhor tivesse matado ela ontem mesmo eu não teria perdido meu dinheiro. E agora o senhor não pode fazer nada, afinal me pagou direitinho e fui eu quem perdi. Me pagar de novo o senhor não pode, né? Mas foi a sua cabrita que comeu o meu dinheiro!!

- Sabe de uma coisa, vamos resolver isso: eu vou te dar a metade do valor, assim nós dividimos o prejuízo. Eu perdi e você também.

E dei mais 25 cruzeiros para ele.

- Sabe Favarato, o senhor é um homem de valor, gosto de ver, se fosse outro não me dava mais nada, por isso todo mundo gosta do senhor, pagou tudo certinho e ainda me deu mais 25 cruzeiros. Tá bom demais! Obrigado.

E o camarada foi embora satisfeito.

Passei a criar muitas cabritas lá na Lagoa, eram cabritas boas, davam uns 2 litros de leite cada uma. Eu vendia o leite para o camarada e estava tudo bom! Na Lagoa tinha muito pasto na vargem, tudo cercadinho, uma beleza!

Um dia as cabritas apareceram todas com um papo grande.

- Ih, as cabritas estão todas doentes!

- Sabe o que é Anselmo? Elas querem andar no morro, cabrita gosta de morro.

Então coloquei as cabritas no morro e pronto, elas melhoraram logo, se vê como é cabrita! Cada um tem o seu lugar!

O problema foi que no morro, o pasto tinha uma porção de coisas: pé de manga, de jaca, de goiaba... e as cabritas comiam a casca dos troncos matando as árvores.

Quando eu vi aquilo: Ah, vou matar essas cabritas!

E matei todas. As cabritas são assim, comem tudo, até dinheiro!