Uma homenagem ao meu avô Anselmo

Eu não sabia fazer conta de dividir

19/05/2011 00:00

Na escola, eu copiava os problemas dos outros. Ah, as contas de dividir... não sabia resolver, era difícil! O Cezar Bisi era meu amigo e era quem sabia fazer conta, então ele me disse: Anselmo, você me dá a merenda sua que eu te pago fazendo seu dever das contas.

 E assim era feito, eu mostrava para o professor que dava a melhor nota. Eu acertava tudo. O Cezar Bisi era bom de fazer contas!

Um dia veio o inspetor. Vinha para saber se o professor estava dando a aula boa. Ele chamou: Vem cá Anselmo, o professor vai passar uma conta e você vai fazer agora.

E como eu não sabia fazer, não fiz nada.

O professor admirado: Anselmo, não vai fazer!? Então volta para o seu lugar.

O inspetor chamou outro: Alcebíades, vem cá, o professor vai passar uma conta e você vai fazer.

E o Alcebíades fez a conta tudo certinho.

Depois que toda a turma foi embora pra casa o professor me chamou e perguntou:

Mas Anselmo, você não sabia fazer a conta de dividir ?

Eu não.

Mas você não fazia o dever tudo certo?!

Professor, eu vou contar a verdade: eu não fazia o dever, era o Cezar quem fazia pra mim em troca da minha merenda. Eu ficava com fome, mas acertava o dever!

Então Anselmo, agora você vai voltar para tras, vai voltar para o primeiro ano e começar tudo de novo.

E eu voltei para o primeiro ano com o menores. E lá todo mundo espiava pra mim admirado.

E meu pai foi lá na escola: Professor, como é que está meu filho? Está bom na escola?

Sabe de uma coisa Eugênio, ele não sabe fazer conta de dividir.

Mas é mesmo! Sabe o que eu vou fazer? Vou levar meu filho pra casa comigo pra trabalhar e pronto! 

Está certo, Eugênio, ele é seu filho. Mas você continua a ensiná-lo em casa.

Meu pai teve que falar a verdade: Professor, eu vou falar uma coisa, mas você não leva mal não. Se pegar uma areia bem fininha, tirar minha calça e sentar em cima, eu faço o Ó.  

Mas, heim! Você não sabe nada não Favarato? 

Mas não sei fazer nem o Ó!

Então Eugênio, como vai fazer com esse menino? Ele não pode ficar assim.

Sabe de uma coisa professor, eu vou levar ele pra casa, colocar na enxada pra trabalhar comigo, só que eu vou contratar o Lauro Belicchi, o contador, pra ensinar a ele. Anselmo vai ficar o dia inteiro comigo trabalhando e a tardinha vai lá  aprender com o Belicchi na casa dele. Eu sei que já tem menino estudando com ele: o Zé Favaro, o Girelli, o Otávio Guasti e mais uns dois ou tres lá.

Assim eu saí da escola e passei a trabalhar o dia inteiro com o meu pai. Todo dia quando chegava cinco horas da tarde ele dizia: Vai embora pra casa, meu filho, toma seu banho, apanha sua lousa e vai lá estudar. Eu te dou a bênção, vai com Deus!

E eu ia pra casa do Belicchi e só voltava de noite. Chegava em casa lá pelas nove horas, ia dormir e no outro dia logo cedo meu pai me chamava: Anselmo, levanta! Vamos trabalhar!

E foi assim. Meu pai quem fazia o café todo dia bem cedo e em seguida seguíamos juntos pra roça.

Ele me dizia satisfeito:

Viu Anselmo, foi bom tirar você da escola! Você trabalha comigo e mesmo assim aprendeu a fazer conta, e você, Anselmo, é um menino bom de serviço, posso colocar você em qualquer serviço que você sabe fazer! Ô menino bom!